Halinnet Norvit

Halinnet Norvit – Jornadas Inacabadas

halinnet norvit

A arena fervilhava de excitação. De um lado, gritos de incentivo e torcida. Do outro, xingamentos e raiva expressados por palavras sujas e gritos de morte. Era essa a recepção que Halinnet Norvit esperava?


Recomendacao 12 anos

!!! Cuidado, esse post pode conter conteúdo não adequado para crianças e/ou menores de 12 anos !!!


Halinnet Norvit nunca conheceu seus pais. Desde sua memória mais antiga, foi criado e treinado para lutar pela diversão alheia na arena de batalhas localizada no extremo leste da cidade. Existiam algumas casas famosas por promover eventos de luta e combate em Rio Prateado, e o sonho da maioria dos lutadores era um dia se apresentar em um dos grandes eventos de gladiadores.

Durante todo o ano eram realizadas lutas menores. Algumas eram eventos isolados, outras eram preparatórias e classificatórias para o grande evento. Ao final de todo o ano, um evento de gladiadores acontecia na cidade, com um público gigantesco e grandes ganhos capitais para os vencedores. Claro, os lutadores não faziam isso pelo dinheiro, e sim pela fama. Ser um lutador famoso em Rio Prateado era uma conquista para qualquer gladiador.

Pelo menos era isso que era dito ao público que acompanhava as lutas. Por dentro das casas de luta, as coisas eram bem diferentes. Muitos dos lutadores eram tratados como escravos e forçados a lutar para ter o que comer no final do dia. O lucro da casa era mais importante do que qualquer outra coisa. Existiam histórias sobre gladiadores que tinham conquistado a própria liberdade ao conseguir rios de dinheiro para casa que o possuía, mas não se sabia se isso era verdade ou uma lenda contada para dar esperança aquelas pobres almas.

Halinnet nunca tinha se apresentado no evento anual. Na verdade, nunca havia se apresentado em nenhum evento oficial. Apenas lutas menores em eventos ilegais de arrecadação em arenas improvisadas escondidas po aí. Apesar de toda a podridão que existia nesse ramo, ainda era preciso que houvesse o apoio da cidade, então algumas regras eram seguidas. Lutadores só poderiam participar de eventos oficiais depois de atingir a idade adulta. E esse ano, parece que Hal não iria escapar das lutas mais perigosas. Dificilmente mortes aconteciam durante as lutas ilegais, teriam muitos problemas com as autoridades se algo fugisse controle. Mas na arena principal, no maior evento do ano, controle não era um conceito muito bem definido.

A “Casa de Scylla” era um nome bem conhecido na cidade. Era comandada por uma mulher mais velha, uma humana de cerca de 60 anos, baixa e de cabelos brancos curtos. Olhos negros penetrantes e na boca, seis dentes superiores em ouro puro. Ninguém sabia seu nome verdadeiro, todos a chamavam de Scylla. Hal viveu e treinou ali por tanto tempo que nunca imaginou outra vida para si mesmo. Comia bem, tinha seu próprio quarto, a matriarca o via com bons olhos e seus companheiros pareciam o respeitar como lutador. Nas lutas, ele tinha seu próprio estilo de combate. Não era precipitado, estudava seu oponente com cuidado antes de tomar a primeira atitude, tinha uma estratégia diferente para cada oponente. E isso tinha sido o suficiente até aquele momento.

As coisas mudaram bastante nesse ano. Era o primeiro ano que ele poderia participar das lutas oficiais, então sem esperar muito seu treinamento mudou da água para o vinho. Ao invés de usar bastões, clavas, ou outras armas brancas de contusão, agora Hal treinava com espadas e machados. Havia sido transferido de quarto, para um outro galpão com outros lutadores mais velhos. O jogo tinha mudado. Durante todo o ano houveram as lutas oficiais classificatórias. Até o final do ano, cada casa de lutas deveria ter no mínimo 2 lutadores com pontuação adequada para classificação. Caso apenas um lutador tivesse pontuação, a casa seria desclassificada e removida do evento. Halinnet passou por todas as etapas sem muitos problemas. Seu treinamento tinha dado resultados. Tudo girava em torno de se estar na melhor forma possível para o evento anual, e dessa vez, diziam que seria um evento sem precedentes.

O dia da apresentação finalmente havia chegado e alguns detalhes do evento foram revelados. Haveriam cinco lutas preliminares entre duas pessoas. Cinco casas estavam presentes no evento com dois lutadores cada. As lutas seriam sorteadas quando o evento começasse. Os vencedores dessas cinco lutas seriam classificados para a luta final. Na última luta os cinco gladiadores iriam lutar contra um único oponente, escolhido pela cidade, mas ainda não sabiam quem era.

Três casas se classificaram para a última luta. A Casa de Scylla com dois lutadores, Halinnet e Bronx, um outro humano que tinha se tornado grande amigo de Hal durante esse último ano. Eles haviam ficado bem próximos após treinarem juntos por tanto tempo. Orvalho de Sangue também se classificou com dois lutadores, dois anões gladiadores. A terceira casa se chamava Lobos de Prata e se classificou com apenas um lutador, outro humano, porém muito maior do que todos os outros lutadores que já tinham visto. As outras duas casas foram eliminadas sem vencedores.

Os cinco gladiadores estavam no centro da arena, o público estava agitado pois o lutador desconhecido ainda não tinha sido revelado. Após um discurso realizado pelo atual prefeito da cidade, o portão norte se abriu. De lá, um humanoide gigantesco, segurado por correntes prendendo os pés e as mãos era arrastado por guardas até o campo de batalha. Ele se debatia e gritava com uma voz gutural em um idioma desconhecido, os guardas se esforçavam para segurá-lo e após passar alguns metros do portão, o libertaram. Do espaço reservado para o prefeito, acima da arquibancada, duas pessoas carregavam uma clava com espinhos e a arremessaram ao lado do ogro. Espadas e machados foram jogadas na direção dos lutadores. Os cinco se entreolharam, em pânico. O silêncio tomou a arquibancada por cerca de 10 segundos, então como o despertar de uma fera adormecida, rugiu em êxtase frente ao próximo combate.

O ogro pegou a clava no chão e partiu na direção dos gladiadores, com arma em punho. Imediatamente Hal gritou para que se espalhassem e cercassem o adversário. Não conseguiam achar uma brecha para o ataque, o ogro era bem maior e mais forte. Não demorou muito para fazer a primeira vítima. Com um golpe certeiro, a clava partiu a cabeça de um dos anões ao meio e seu corpo caiu ao chão. O desespero aumentou. Um soco no peito derrubou o outro humano e uma pisada na cabeça tirou a vida da segunda vítima. Só restaram Hal, Bronx e o anão. De alguma forma eles conseguiram sincronizar alguns ataques e acertar o inimigo, ferindo severamente o ogro, mas ainda não o suficiente para derrubá-lo. O fervor tomou a batalha enquanto o público não conseguia segurar sua emoção.

Hal queria desesperadamente sair dali. Tantas mortes sem sentido, para fornecer diversão a pessoas que ele nunca tinha visto e que não se importavam com as vidas perdidas. Pessoas sem família, sem casas e passando fome eram obrigadas a lutar e morrer apenas para encher os bolsos de indivíduos sem escrúpulos.

De repente, outra reviravolta aconteceu. O ogro já alterado pela fúria e ferimentos agarrou Bronx pelo tronco e com uma força descomunal arrancou o seu braço direito e o jogou para o lado. Com a clava, acertou em cheio o outro anão quebrando vários ossos e o arremessando contra Hal. O impacto foi tão forte, que por alguns segundos ele perdeu a consciência.

A visão de Hal ficou turva, tudo ficou distante. A sua frente um cavaleiro de armadura prateada que ao menor reflexo das luzes do sol parecia mudar de cor para um vermelho sangue. Uma espada longa na sua mão direita, a ponta do cabo em forma de uma peça de xadrez. Hal conhecia o jogo bem o suficiente para identificar a coroa da rainha com detalhes em vermelho. No lado esquerdo um escudo de metal, vermelho com a peça do cavalo em prata no centro. O elmo sobre todo o seu rosto, e com uma voz seca ressoando o metal que cobria sua boca disse:

  • CV: Levante-se, essa não é a sua última batalha.
  • HN: Eu não consigo. Todos estão mortos. Qual o sentido de continuar lutando e ser um escravo por toda a minha vida?
  • CV: Lutar não é errado, desde que o faça com sabedoria e pelos motivos certos. Não deixe que as mortes de hoje tenham sido em vão. Logo, você terá a chance de lutar para salvar vidas e não apenas tirá-las.
  • HN: E todo o sangue que terei em minhas mãos?
  • CV: Sangue em suas mãos não é algo que você pode evitar. Mas você pode escolher de quem o sangue será.
  • HN: O que eu devo fazer?
  • CV: Você jura proteger aqueles que precisam, ser justo e responsável pelos seus atos e, ainda assim, seguir caminho e a arte da guerra?
  • HN: Eu juro

Hal estava ajoelhado, se apoiando no chão com os dois braços, o impacto tinha sido forte. Sua visão voltou ao normal e ao olhar para baixo estava segurando uma lança curta com as duas mãos. O ogro estava em pé, fazendo a varredura da arena, esperando que ainda houvesse um adversário. Ele se levantou, a lança erguida pelo braço direito, acima do ombro. Pegou o impulso de dois passos, projetou o corpo pra frente e arremessou. A lança atingiu o ogro no meio dos olhos, sua cabeça se inclinou para trás e o corpo seguiu.

A multidão em delírio começou a gritar o seu nome. Hal se aproximou do corpo de seu amigo Bronx, com a mão fechou seus olhos e ficou ali, parado e em silêncio durante um tempo.

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