Meio-elfos sempre tiveram problemas de pertencimento. O fato de serem metade humanos e metade elfos (ou outras variações um pouco menos comuns) fazia com que passassem as suas vidas sendo rejeitados por ambos os mundos e acabavam nunca se conhecendo verdadeiramente. Como se sentia Donna Marmeril?
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Para Donna não existia o sentimento de pertencimento. Na verdade, para Donna, não existia sentimento nenhum além da perda. Faziam poucos dias que ela tinha acordado na prisão de Rio Prateado, sem nenhuma lembrança do que ocorrera. Não lembrava nem mesmo de seu nome. Os guardas da cidade disseram que a encontraram desacordada em uma viela a uns 4 quarteirões de Aves de Rapina (a taverna). Possuía apenas uma mochila e as roupas do corpo.
Após alguns questionamento dos guardas, que Donna não soube responder, a devolveram sua mochila e a mandaram embora. Devido ao estado emocional da jovem, e a falta de pertences, ela poderia ficar hospedada em Aves de Rapina por dois dias, para conseguir colocar seus pensamentos em ordem. Depois disso, deveria procurar outro lugar para ficar.
Ainda sem entender muito o que estava acontecendo, Donna foi acompanhada até a estalagem, a levaram até o seu quarto temporário e a deixaram com seus pensamentos. Mas não havia nenhum. Nenhuma lembrança, nenhuma imagem, nenhuma carta ou anotação. Nada!
Donna não conseguia nem chorar, pois não sabia o que estava sentindo. Suas roupas não eram velhas nem rasgadas, muito pelo contrário. Um robe preto com detalhes em dourado cobria todo o seu corpo, desde os ombros até a ponta dos pés, combinando com a cor dos seus longos cabelos pretos e dos seus olhos penetrantes. Começou a revirar a mochila, mas dentro dela apenas um manto da mesma cor do robe. Talvez o estivesse vestindo quando a encontraram e os guardas o guardaram na mochila. Nada nos bolsos do robe ou do manto. Estava com sua mão dentro da mochila, quando suspirou de desânimo e sussurrou – “Queria ter pelo menos um pouco de dinheiro para comer alguma coisa, estou caindo de fome.”
Sem barulhos ou brilhos luminosos, sem qualquer tipo de prestidigitação, duas moedas de prata apareceram na mão que estava dentro da mochila. Não precisava ser um gênio para entender o que era preciso fazer. Começou a listar itens que poderiam estar magicamente escondidos na mochila, dinheiro, roupas, cartas ou anotações. Algumas palavras ditas traziam resultados, moedas de prata e ouro foi o que mais conseguiu retirar da mochila, mas nada sobre quem ela era ou sobre seu passado. Tentava usar termos menos específicos – pedras, artes, comida. Livro.
O que saiu da mochila a deixou um pouco apreensiva. Ela sentia que conhecia o livro, mas não tinha certeza do que era. Um livro de couro, pesado. A capa era bem trabalhada, com detalhes em prata em cima do couro. Um dragão prateado em forma de serpente, formando um círculo mordendo o próprio rabo. Ao abri-lo, logo na primeira página, em letras cursivas estava escrito “Família Marmeril”. Na página seguinte, o que parecia ser uma árvore genealógica com ilustrações feitas a mão dos familiares. Toda uma geração de elfos por linhas e linhas da árvore. No canto mais inferior direito, um casal formado por um elfo e uma humana, terminando a árvore inteira em dois filhos, um jovem meio-elfo chamado Horis Marmeril e uma meio-elfa com o nome de Donna Marmeril. Donna se reconheceu imediatamente ao olhar para a ilustração. Após alguns segundos analisando toda a página, as imagens de Donna e Horis, além da sua mãe humana, começaram a ficar transparentes até desaparecerem da página por completo. As próximas páginas continham o que todo outro grimório costumava conter, anotações de magias.
Ela precisou de um tempo para processar tudo o que tinha acabado de ver. Se deitou na cama por um tempo, de olhos fechados tentando trazer alguma lembrança das pessoas que estavam nas ilustrações. Teve um ideia espontânea. Abriu novamente a mochila, colocou a mão para dentro e pronunciou “Horis Marmeril”.
Algo veio a sua mão. Um cilindro de vidro, uma garrafa transparente tapada com uma uma rolha de vinho. Dentro um pergaminho velho com algumas escritas a mão, em uma tipografia trêmula e fraca. Um idioma que não era o comum, mas que ela conhecia entender. Tinha descoberto mais uma característica sua, conhecia o idioma élfico. Donna abriu a garrafa, desenrolou o pergaminho e nele a seguinte mensagem seguia:
“Minha querida irmã Donna, serei o mais breve possível. Estou preso em um calabouço na Ilha do Dragão Serpente e preciso que traga ajuda, Minhas últimas forças serão para que essa carta chegue até você, você é a última esperança de nossa família. ” – Horis Marmeril
Um sentimento de urgência tomou conta de Donna, que pegou novamente a mochila, puxou algumas moedas de ouro e seguiu para fora da taverna. Precisava encontrar ajuda.