Wrenn Miggley – Jornadas Inacabadas

O mundo não é um lugar amistoso. Pessoas não são amistosas e se aproveitam ao máximo daqueles que não conseguem se proteger ou se defender. Se você não é forte o suficiente para lutar, rápido o suficiente para fugir ou esperto o suficiente para enganar, a maré sobe e um maremoto te carrega pra longe da sua casa, sua família e seus amigos.


Recomendacao 12 anos

!!! Cuidado, esse post pode conter conteúdo não adequado para crianças e/ou menores de 12 anos !!!


Essa era o sentimento de Wrenn, que ao final da sua adolescência[1] foi retirado de seu lar por um grupo de piratas conhecidos como “Hidra Negra”.

Era uma vila costeira, basicamente pescadores que viviam os seus dias no mar buscando o sustento da família. A maioria dos pescadores eram humanos camponeses, mas a família de Wrenn havia chegado ali fazia 2 gerações (de gnomos) e desde então não saíram mais. A família Miggley não manejava os barcos pesqueiros devido a sua estrutura física, utilizar os grandes remos eram tarefas difíceis para o físico limitado de um gnomo, então eles eram responsáveis pela limpeza e distribuição da mercadoria quando chegavam. Era uma vida simples, mas digna.

Foi em uma manhã quente de verão que a vida de todos naquela vila mudou. Ao longe, vista da costa, uma hidra branca se aproximava, estampada em um pano negro, tremulando em velas de um navio cargueiro. Ancorou a uma boa distância, e em poucos minutos pequenos botes se aproximavam da margem com dezenas de piratas com espadas em punhos.

O vilarejo foi atacado. Os piratas saquearam tudo o que puderam, mataram quem tentava impedir, caçavam quem tentava fugir, violentaram as mulheres em suas próprias casas e levaram os mais jovens para servir como escravos no cargueiro. Todas essas cenas ainda voltam a atormentar Wrenn em seus pesadelos. Principalmente o rosto do capitão, que pessoalmente o arrastava pelo braço enquanto o gnomo gritava por tudo aquilo que havia perdido. “Capitão Cabeça de Hidra”, Wrenn nunca mais esqueceria esse nome.

Foram vários dias de fome, sede e surra até os piratas decidirem que os prisioneiros já estavam condicionados o suficiente para tirá-los das celas e começarem a lhes dar tarefas para manter o navio. Cozinhar, descarcar batatas, limpar e consertar as velas rasgadas. Alguns prisioneiros não aguentavam as longas viagens, ficavam doentes e não contibuiam em nada com o resto da tripulação. Esses eram vendidos em ilhas de comércio ilegal onde os piratas faziam negócios. Aqueles que se destacavam viravam parte da tripulação e aprendiam os costumes dos piratas.

Com o tempo alguns dos antigos prisioneiros nem se lembravam mais de suas casa e haviam abraçado completamente a vida no mar. Wrenn ainda era parte da tripulação. Se destacava entre os piratas por sua agilidade e habilidade com o florete, porém nunca se esqueceu do que os piratas da Hidra Negra tinham feito ao seu vilarejo. Se mantinha firme no mar, pois sabia que um dia iria ter a sua retribuição.

Conversas paralelas começaram a ocorrer nos dias seguintes. Piratas se perguntavam o que havia no baú e o por que de tanto segredo. Essa era a oportunidade perfeita para Wrenn. Quando alguém o perguntava se ele tinha ideia do conteúdo do baú, ele simplesmente respondia: “Tá de sacanagem? Certeza que é algum artefato raro e valioso pra caralho, quem sabe mágico e com poderes gigantes. Por isso o capitão o mantém somente com ele, para não compartilhar o seu poder com ninguém. Ahoy?”

Não demorou muito para todos estarem falando sobre o item mágico secreto do capitão. Estavam interessados no que ele poderia fazer e porque ninguém tinha acesso a ele. Semanas se passaram, eles atracaram em um novo porto e, com um empurrãozinho de Wrenn, um motim se formou. Todos queriam o artefato, e estavam dispostos a brigar por ele. “Capitão Cabeça de Hidra” estava em sua cabine quando ouviu a briga do lado de fora. Ao sair, toda a tripulação estava vindo em direção a sua cabine, batendo uns nos outros e gritando xingamentos pra todos os lados. Com um grito grave, conseguiu fazê-los parar a alguns metros do seu objetivo, questionando o motivo de toda essa briga e esse barulho.

De cima de uns dos mastros com velas, uma criatura pequena se jogava segurando uma corda, como se estivesse transitando entre cipós em uma floresta. Com seu florete na mão esquerda, mergulhou em direção ao seu carrasco com a ponta da espada mirando em sua testa. O capitão foi ágil o suficiente para evitar o ataque mortal, mas não rápido o suficiente para sair sem sofrer nenhum dano. Ao virar sua cabeça para desviar do ataque, a ponta do florete rasgou o seu olho esquerdo, desde o início do nariz até a sua orelha. Wrenn caiu ao chão com a graça de uma lince (após 8 doses de rum). Apontou a espada para os céus e disse – “Seu safado! Não pode manter um artefato tão poderoso só pra você mesmo e deixar a tripulação a ver navios! Vamos homens, peguem o que é de vocês por direito! AHOY?” – e desceu o florete apontando em direção a cabine do capitão.

Apenas um segundo se passou, e antes que Cabeça de Hidra pudesse despejar toda a sua ira sobre o traidor, toda a tripulação já estava acumulada na frente dele. Todos lutando para entrar nos aposentos, empurrando e batendo uns nos outros. O caos havia sido instaurado. Wrenn já havia perdido o capitão de vista no meio da confusão, possivelmente pisoteado. Não, ele não tinha tanta sorte assim. Começou a procurá-lo no meio da confusão e o encontrou caído, com o mão cheia de sangue do que antes era seu olho esquerdo. Sem pensar duas vezes, Wrenn se aproximou dele, desviando das espadas e porretes que vinham em sua direção, olhou no fundo do olho do capitão e perfurou seu peito com a ponta de sua espada. Sem proferir uma palavra, sem piscar os olhos. Apenas o sentimento de vingança no coração.

Se aproveitando do seu tamanho e sua agilidade, foi atravessando a maré de piratas até conseguir entrar na cabine. Trancou a porta por dentro e foi a procura do baú. O encontrou aberto num dos cantos do quarto, com várias moedas de ouro e outros itens valiosos. Não tinha reparado no primeiro dia que o viu, mas na parte superior havia uma figura de um dragão de bronze, bem acima da fechadura. Dentro do baú, no centro, havia um item diferente, circular, feito completamente de prata. Tinha cerca de 30 centímetros de diâmetro e 10 centímetros de espessura. Sua borda era de prata maciça, com inscrições douradas em um idioma desconhecido. O centro era vazado, com uma grade de ouro se conectando a parte interior da borda de prata. Sobre essa grade, a cabeça de um dragão, com um corpo de serpente. Algo que Wrenn nunca havia visto antes.

Wrenn colocou o tesouro em sua bolsa lateral. Era mais pesado do que ele havia previsto. Com o furor da briga fora da cabine, não foi difícil achar um caminho para sair do navio sem ser percebido. E ali, depois de anos com esses seres desprezíveis, o gnomo desceu no porto e caminhou em direção a próxima cidade, sem olhar nenhuma vez para trás.

[1] gnomos atingem sua fase adulta aos 40 anos, então estimo que aqui ele tinha por volta dos 35

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